Traveling solo but not alone

Já estou em Zurique e Berlim foi absolutamente incrível. Tão incrível que mal deu tempo para vos manter a par das coisas que iam acontecendo.

Como quase sempre, pouco ou nada levava planeado para a minha passagem por Berlim. Quando lá cheguei, no domingo, passei o dia no hostel porque estava cansada da viagem de Paris para lá, mas na segunda-feira logo pela manhã meti-me numa Free Walking Tour (FWT) e foi muito, muito interessante. Estas FWT estão disponíveis em imensas cidades e podem encontrar toda a informação sobre elas na internet. Aconselho a que a façam logo no início da vossa viagem para que tenham uma ideia geral da cidade e mais tarde, então, visitam aquilo que mais vos agradou. Sim, porque nestas FWT visitam-se os pontos mais interessantes mas apenas por fora.

Berlim não é uma cidade linda de morrer mas tem uma carga emocional muito forte por causa da 2ª Guerra Mundial e do Holocausto. A cidade foi praticamente destruída durante a 2ª Grande Guerra e os efeitos ainda são muito visíveis. É uma cidade que ainda está muito em construção e que continua a crescer. Estar junto ao Muro de Berlim e ouvir, pela boca de um alemão, histórias sobre o Muro é arrepiante e pensar que ele só foi derrubado há pouco mais de 20 anos é assustador. Ele contou-nos que no dia em que o Muro foi derrubado, jornalistas perguntavam aos alemães se eles acreditavam que um dia o Muro viria a baixo e eles achavam que sim, só não acreditavam que iriam poder ver isso a acontecer nem tão pouco fazer parte do acontecimento.

Quando acabou a FWT, toda a gente dava ao guia (que foi ótimo, por sinal) notas de 10€, de 20€… até vi um casal dar-lhe 40€. Eu deixei-me ficar para última e dei-lhe 3,5€. Não tinha mais comigo nem podia dar mais.

– “I’m sorry, but this is a low budget trip!”

Entretanto, perguntei uma informação sobre o Muro de Berlim a duas amigas que também estavam a fazer a FWT e que eu já tinha visto que estavam no mesmo hostel que eu.

– “Por acaso vamos agora para lá!”

-“Ai é? Posso ir convosco?”

Tornamo-nos inseparáveis, planeamos os dias seguintes juntas, fizemos pic-nics com comida desviada do pequeno-almoço, jantares e até uma noite boémia. Uma chama-se Ana, é mexicana e mudou-se para o Canadá com a família quando tinha 5 anos, se não estou em erro. A outra chama-se Maddy, é americana, de San Francisco, mas também estuda no Canadá. Apesar de serem da mesma universidade, só se conheceram em Barcelona em Setembro, quando se mudaram para fazer um semestre. Correu tudo mais do que perfeito e no final ainda caiu uma lagrimita. Ficaram as promessas de nos voltarmos a encontrar num futuro muito próximo, de preferência do lado de lá.

Maddy, Diana, Ana
Maddy, Diana, Ana

Ontem à noite apanhei o autocarro para vir para Zurique. Como aqui na Suiça tudo é muito mais caro, fiz questão de me abastecer com alguns mantimentos ainda em Berlim. Imensos chocolates, coca-cola, uma massa fria para jantar, alguma fruta. Quando estava à espera do metro para ir para a estação dos autocarros, vi que havia uma daquelas máquinas de chocolates e tinha lá à venda o Twix Maxi a 1,10€. Comprei-o e só depois vi que tinha também uma promoção de Maltesers – que adoro por sinal. Duas embalagens pelo preço de uma, 1,10€. Vou ao bolso e só tinha um euro. Não queria levantar mais dinheiro porque o mínimo naquela máquina era de 20€ e aqui na Suíça não ia usar euros mas sim francos. Dez cêntimos… toda a gente tem 0,10€ perdidos na carteira, não é? Toca a remexer tudo. Faltavam 4 minutos para o metro chegar. Nada, nem um cêntimo. Abro a mala, começo a ver no fundo das carteiras e da outra mochila. Nada também. Vou à outra mala e depois de tirar quase metade da minha bagagem e ter tudo à minha volta, encontrei como que por milagre 0,10€ no fundo da mala. Ouvi o metro a chegar mas decidi ignorar e apanhar o próximo.

-“Que se lixe o metro, agora não saio daqui sem os Maltesers.”

Deixo o metro ir, insiro o dinheiro na máquina e cai só uma embalagem de Maltesers. A outra ficou presa. Tive vontade de chorar! Eu de camisola grossa, casaco grosso, cachecol grosso, a mal me conseguir mexer, de malas literalmente escarrapachadas no meio da estação do metro para no final acontecer assim… Não foi um final feliz – de todo.

Cheguei à estação dos autocarros e não havia mais ninguém na Gate para Zurique, a não ser eu e mais uma rapariga. Claro, ninguém faz uma viagem de 12 horas de autocarro quando agora tem viagens low-cost pelo mesmo valor ou pouco mais. Autocarro com Wi-Fi e eu podia fazer a viagem tranquila, com espaço para me deitar de uma forma mais ou menos confortável. Isto tudo foi o que eu pensei. Claro que estava enganada.

Mal o autocarro chega foi como que uma invasão e o que me veio à cabeça foi uma imagem do Muro de Berlim quando foi derrubado. O autocarro tinha dois pisos, eu consegui ir para cima e cheguei-me para a janela. Demorou cerca de meia hora para que toda a gente entrasse, os lugares começavam a ficar todos ocupados e eu pensei: bem, daqui a nada alguém se vai sentar ao meu lado, já não vou dormir nada. Chegou um momento em que todos os lugares do piso de cima estavam ocupados, menos o que estava ao meu lado. As pessoas subiam as escadas, davam uma olhada e voltavam para baixo. Ao início eu ainda pedi mentalmente para que ninguém visse aquele lugar mas depois de umas 7 ou 8 pessoas terem voltado a descer, eu comecei a sentir-me mal e a questionar se será mesmo verdade que se queremos muito uma coisa, ela acontece. Vi mais uma rapariga que já estava a dar meia para ir ver se tinha lugar em baixo, e alertei-a do lugar vago ao lado do meu. Ela ficou contente e acabamos por conversar bastante durante as 12 horas de viagem.

E pronto, cheguei a Zurique ao meio-dia, estava de chuva e eu com uma noite em branco, corpo completamente dorido e ainda 35 kg de bagagem atrás de mim. Mais o saco de comida. E esperar pelo meu host do Couchsurfing até às 19 horas. Enfiei-me numa Starbucks a ver pessoas. Que bem que – ainda – se está.

Galeria de imagens aqui.


1 thoughts on “Traveling solo but not alone

  1. Diana, vi no Porto Canal uma reportagem sobre o seu projeto no Quénia.
    Eu e o meu marido gostávamos de oferecer uma pequena ajuda monetária para a vossa Escola. Gostava que me enviasse o NIB para enviarmos, de forma segura, algum dinheiro, porque, por aquilo que a ouvimos dizer, o que para nós é pouco, para esses 35 meninos é muito…

    Obrigada, bem haja e…espero que continue a ser muito feliz e a fazer felizes esses meninos que estão à sua espera.

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