Hola, Madrid!

Lisboa já ficou para trás. As estações de comboio, que sempre tanto me disseram, dizem-me agora mais: falam-me ao ouvido, baixinho, sobre despedidas que espero serem mais um “até já”.

Até qualquer dia, até sempre, para sempre, Lisboa. Vou ter saudades tuas.

Lisboa

Demorei 10 horas a chegar a Madrid. A carruagem estava praticamente vazia e, apesar de ter lugar marcado, eu cheguei-me para o da janela. Trinta segundos depois de o comboio iniciar marcha, um argentino veio reclamar o lugar.

Hola, soy Francisco. Diana, encantada.

Fomos parceiros de uma viagem em que passamos 90% do tempo a dormir. Apesar de a conversa não ter sido muita, quando chegamos a Madrid sabíamos que cada um de nos era a pessoa mais próxima uma da outra. Foi por isso que, sem pedir ou combinar, ele foi comigo depositar as minhas malas e depois eu o ajudei a carregar as dele. Fui com ele ao hostel para fazer o check-in e enquanto esperava por ele, a rapariga da recepção diz-me: ah, não és cliente? Estás só à espera do argentino? Sim… Então vai ali à cozinha tomar o pequeno-almoço que eu hoje acordei de bom humor. Soou a uma ordem da minha mãe.

Depois de uma noite muito mal dormida sentada num lugar de comboio e de andar com malas de trás para a frente durante quase duas horas, a generosidade desta rapariga de cabelo roxo teve entrada direta no meu coração.

Bom dia, Madrid! Fazes muito frio, vamos entrar nesta loja de presuntos, comer umas tapas e beber uma caña. Ou duas. Muito melhor assim. O ritual deve ser repetido várias vezes ao dia. Hora de me despedir do Francisco e palmilhar Madrid ao meu ritmo.

Camiño

Uma amiga madrilena que conheci em Chicago ofereceu-me dormida durante os dias que cá fico. Vamos conhecer a mãe dela e já que lá vamos, almoçamos por lá. A partir do momento em que conhecemos a mãe da pessoa que nos oferece dormida, sentimo-nos seguros. Sabemos que, pelo menos, comida não nos vai faltar. Quando estamos a viajar com budget reduzido, a dormida e a comida são sempre a nossa principal preocupação. Sinto-me segura quando tenho chocolates e coca-cola na mochila e respostas no Couchsurfing.

Não sou fã de museus, admito. Mas sou fã de paisagens sem dono. Há dois anos, quando vim a Madrid com mais duas amigas, fomos ao Museo del Prado. Quais apreciadoras e entendidas de arte, na altura as nossas interpretações das obras eram de tal forma específicas que praticamente fomos convidadas a sair. É feio, eu sei. Rimos tão alto que desconcentrávamos quem realmente queria analisar as obras e foi por isso que saímos e rimos das nossas figuras durante todo o Passeo del Prado. Há dois dias, quando voltei a lá passar, lembrei-me dessa situação. E senti nostalgia. Ainda não sei se prefiro viajar sozinha ou acompanhada. Mas sei que quando estou sozinha quero estar acompanhada e quando estou acompanhada quero estar sozinha. António Variações, é um prazer viajar contigo.

É uma vergonha estar pela 4ª vez em Madrid e ainda não ter ido ver o Guernica. A Laura, a tal madrilena que conheci em Chicago, vive cá e só lá foi uma vez. Senti-me melhor. Aproveitamos que era feriado e a entrada era gratuita (atenção que quase sempre se consegue ir visitar museus de forma gratuita, basta perguntar ao Google quando) e lá fomos ao Museo Reina Sofia. Telemóvel em punho para tirar a fotografia de praxe (achava eu) ao Guernica e sou imediatamente informada que é proibido tirar fotografias. Sorte foi que a Laura reconheceu a senhora emprega da pré-escola e depois de dois dedos de conversa lá disse que era proibido tirar fotografias mas que ia virar costas por cinco segundos para ir alertar outras pessoas.

Chego amanhã a Paris e só agora estou a acertar todos os detalhes com a pessoa que me vai hospedar durante uma semana. Estou ansiosa por lá chegar, quero aprender um bocado mais de Paris e de francês. As expectativas não estão elevadas, vou tranquila, sem grandes pressas.

A inspiração não está aqui toda, mas ela acaba por vir. Quando ela quiser, ela vem.

Galeria de imagens aqui.


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